Huang parecia aborrecido, mas Riley sentiu-se aliviada. Não haver novidades eram boas notícias para ela. Mas seria bom demais para durar?
“Posso entrar?” Perguntou Riley.
“Claro,” Disse Huang.
A porta lateral deslizou e Riley entrou, encontrando outro agente, Grace Lochner, no interior. Riley sabia que Grace também tinha uma reputação notável na UAC.
Lochner estava sentada em frente a vários monitores de vídeo. Virou-se para Riley com um sorriso.
“O que é que tens aqui?” Perguntou Riley.
Parecendo ansiosa por mostrar a tecnologia à sua disposição, Lochner apontou para alguns monitores que mostravam vistas aéreas do bairro.
Ela disse, “Aqui temos imagens de satélite em tempo real a mostrar todas as vindas e idas num raio de meio quilómetro. Ninguém se pode aproximar daqui sem darmos por isso.”
A rir-se, Lochner acrescentou, “Ainda bem que vives num bairro sossegado. Não temos que monitorizar tanto tráfego.”
Apontou para vários outros monitores que mostravam a atividade ao nível da rua.
Disse, “Escondemos câmaras à volta do bairro para ver o que se passa mais de perto. Podemos verificar matrículas de qualquer veículo que se aproxime.”
Uma voz soou num intercomunicador.
“Têm uma visita?”
Lochner respondeu, “A Agente Paige passou por aqui para nos cumprimentar.”
A voz disse, “Olá Agente Paige. Sou o Agente Cole e estou no veículo atrás da sua casa. Tenho comigo os Agentes Cypher e Hahn.”
Riley sorriu. Eram todos nomes familiares de agentes com boa reputação.
Riley disse, “Estou contente por estarem aqui.”
“O prazer é nosso,” Disse o Agente Cole.
Riley estava impressionada com a comunicação entre as duas carrinhas. Ela podia ver a carrinha atrás da sua casa em alguns dos monitores de Lochner. Era obvio que nada podia acontecer com nenhuma das equipas sem que a outra o detetasse imediatamente.
Riley também ficou agradada com as armas presentes no interior da carrinha. A equipa tinha suficiente poder de fogo para combater um pequeno exército se necessário.
Mas não conseguia deixar de pensar se seria suficiente para combater Shane Hatcher? Saiu da carrinha e encaminhou-se para sua casa, dizendo a si própria para não se preocupar. Não conseguia imaginar Shane Hatcher a passar por cima de toda aquela segurança.
Ainda assim, não conseguia evitar lembrar-se da mensagem que recebera.
Não pode dizer que não foi avisada.
Quando Riley entrou em sua casa, o local parecia soturnamente vazio.
“Cheguei,” Disse.
Mas ninguém respondeu.
Onde estão todos? O alarme que sentiu começou a transformar-se em pânico.
Seria possível que Shane Hatcher pudesse passar por todo aquele dispositivo de segurança?
Riley tentou não imaginar o que poderia acontecer caso tal tivesse sucedido. O seu pulso e respiração aceleraram ao dirigir-se para a sala.
Os três miúdos – April, Liam e Jilly – estava lá. A April e o Liam estavam a jogar xadrez e a Jilly estava a jogar um jogo de vídeo.
“Ouviram-me?” Perguntou.
Os três olharam para ela com expressões distraídas. Estavam obviamente todos concentrados no que estava a fazer.
Estava prestes a perguntar aos miúdos onde é que estava Gabriela quando ouviu a voz da epregada atrás dela.
“Está em casa, Señora Riley? Estava lá e baixo e pareceu-e ouvi-la entrar.”
Riley sorriu à robusta mulher Guatemalteca.
“Sim, acabei de chegar,” Disse, já respirando melhor.
Assentindo e sorrindo, Gabriela virou-se e dirigiu-se para a cozinha.
April tirou os olhos do jogo por u omento.
“Está tudo bem, mãe? Pareces um pouco agitada.”
“Está tudo bem,” Disse Riley.
April voltou a sua atenção novamente para o jogo.
Riley demorou um momento a pensar na maturidade da sua filha de quinze anos. April era elegante, alta, tinha cabelo escuro e os olhos de avelã de Riley. April já passara por muito nos últimos meses, mas agora parecia estar a passar muito bem.
Riley olhou para Jilly, uma rapariga mais pequena com pele mais escura e grandes olhos negros. Riley estava a passar pelo processo de a adotar. Naquele momento, Jilly estava sentada em frente a um grande monitor a tratar da saúde de alguns tipos maus.
Riley não ficou agradada. Não gostava de jogos de vídeo violentos. No que lhe dizia respeito, faziam a violência – sobretudo a violência com armas – parecer demasiado atrativa e demasiado asséptica. Riley acreditava que exerciam uma influência negativa sobretudo nos rapazes.
Ainda assim, pensou Riley, talvez aqueles jogos fossem inofensivos quando comprados com a própria experiência de Jilly. No final de contas, a menina de treze anos sobrevivera a horrores na vida real. Quando Riley encontrou Jilly, ela estava a tentar vender o corpo por puro desespero. Graças a Riley, Riley tivera a oportunidade de ter uma vida melhor.
Liam levantou o olhar do tabuleiro de xadrez.
“Ei Riley. Estava a pensar…”
Hesitou antes de fazer a pergunta.
Liam era novo lá em casa. Riley não tinha planos para adotar o miúdo alto, ruivo e de olhos azuis. Mas salvara-o de um pai bêbedo que lhe batia. Precisava de um lugar para viver naquele momento.
“O que é Liam?” Perguntou Riley.
“Não há problema se for a uma competição de xadrez amanhã?”
“Também posso ir?” Perguntou April.
Riley sorriu novamente. Liam e April namoravam quando Liam começou a viver ali em baixo na sala de família, mas tinham prometido suspender a sua relação por enquanto. Tinham que ser hermanos solamente, como Gabriela dissera – apenas irmão e irmã.
Riley gostava de Liam, e ainda mais pela influência positiva que o rapaz inteligente tinha sobre April que se interessara por xadrez, línguas estrangeiras e trabalho escolar em geral.
“É claro que ambos podem ir,” Disse ela.
Mas depois teve um repentino acesso de preocupação. Tirou o telemóvel, encontrou algumas fotos de Shane Hatcher e mostrou-as aos três miúdos.
“Mas têm que ter cuidado com Shane Hatcher,” Disse ela. “Têm estas fotos nos vossos telemóveis. Lembrem-se sempre da sua aparência. Liguem-me de imediato se virem alguém que se pareça com ele.”
Liam e April olharam para Riley surpreendidos.
“Já nos disseste isto antesm” Disse Jilly. “E vimos essas fotos um milhão de vezes. Alguma coisa mudou?”
Riley vacilou por um momento. Ela não queria assustar os miúdos. Mas sentia que tinham que ser avisados.
“Recebi uma mensagem de Hatcher há pouco,” Disse ela. “Era…”
Hesitou novamente.
“Era uma ameaça. É por isso que quero que estejam muito atentos.”
Para surpresa de Riley, Jilly sorriu-lhe.
“Isso quer dizer que ficamos em casa quando a pausa de primavera da escola terminar?” Perguntou.
Riley ficou alarmada com a despreocupação de Jilly. Também se interrogou se a ideia de Jilly não era correta. Deveria manter os miúdos longe da escola? E não deveriam o Liam e a April ir à competição de xadrez no dia seguinte?
Antes de pensar bem nas coisas, April disse, “Não sejas pateta, Jilly. É claro que vamos continuar a ir à escola. Não podemos deixar de viver as nossas vidas.”
Depois, virando-se para Riley, April acrescentou, “Não é uma ameaça real. Até eu sei isso. Lembram-se do que aconteceu em janeiro?”
Riley lembrava-se demasiado bem. Hatcher tinha salvo April e Ryan, o ex-marido de Riley, de um assassino que se queria vingar de Riley. Também se lembrava como Shane Hatcher tinha deixado o assassino preso e amordaçado para que Riley lidasse com a situação como entendesse.
April continuou, “O Hatcher não nos faria mal. Deu-se a muito trabalho para me salvar.”
Talvez a April tivesse razão, Pensou Riley. Pelo menos no que dizia respeito a ela e aos outros miúdos. Mas mesmo assim estava contente por os agentes se encontrarem à porta.
April encolheu os ombros e acrescentou, “A vida continua. Temos que continuar a fazer o que fazemos.”
Jilly disse, “E isso também é para ti mãe. É bom teres vindo para casa mais cedo. Assim tens muito tempo para te preparares para hoje à noite.”
Durante um momento, Riley não se lembrava a que é que Jilly se referia.
Então recordou-se – tinha um encontro com o seu antigo vizinho, Blaine Hildreth. Blaine era dono de um dos mais simpáticos resraurantes de Fredericksburg. Planeava passar por lá, apanhar Riley e levá-la a desfrutar de um magnífico jantar.
April levantou-se.
“Ei, é verdade!” Disse ela. “Anda mãe. Vamos até lá acima e eu ajudo-te a escolher a roupa.”
*
Mais tarde nessa noite, Riley estava sentada no pátio iluminado por velas do Blaine’s Grill, apreciando o tempo fantástico, a excelente comida e a adorável companhia. À sua frente, Blaine estava tão atraente como sempre. Era apenas um pouco mais novo do que Riley, em forma e aparentando já sinais de falta de cabelo de que não se orgulhava.
Riley também o considerava uma agradável companhia para conversar. Enquanto comiam um delicioso prato de pasta com frango em alecrim, conversaram sobre acontecimentos atuais, memórias de tempos há muito passados e viagens.
Riley estava encantada por a sua conversa nunca ter trazido à tona o seu trabalho na UAC. Nem estava com disposição para pensar nisso. Blaine parecia pressentir isso e manteve-se longe do assunto. Uma coisa que Riley gostava muito em Blaine era a sua sensibilidade aos seus humores.
Na verdade, havia muito poucas coisas em Blaine de que Riley não gostava. É verdade que tinham tido uma discussão há pouco tempo. Blaine tentara provocar ciúmes em Riley com uma amiga e conseguira realizar o seu intento. Agora já se conseguiam rir da sua infantilidade.
Talvez fosse do vinho, mas Riley sentia-se extremamente descontraída. Blaine era uma companhia confortável – recentemente divorciado como Riley e ansioso para prosseguir com a sua vida sem saber muito bem como.
A sobremesa chegou finalmente – a favorita de Riley, cheesecake de framboesa. Sorriu ligeiramente ao recordar-se do telefonema que um dia April fizera a Blaine para lhe dar a conhecer algumas das suas coisas preferidas, incluindo cheesecake de framboesa e a sua música preferida – “One More Night” de Phil Collins.
Ao desfutar o cheesecake, Riley falou dos seus miúdos, sobretudo de como Liam se estava a habituar a tudo.
“A princípio estava um pouco preocupada,” Admitiu. “Mas ele é um miúdo espetacular e todas gostamos imenso de o ter lá em casa.”
Riley parou de falar durante um momento. Parecia um luxo ter alguém com quem falar sobre as suas dúvidas e preocupações domésticas.
“Blaine, não sei o que vou fazer com o Liam a longo prazo. Não o posso mandar de volta para aquele pai bêbedo e só Deus sabe o que é feito da mãe. Mas não vejo como é que o posso adotar legalmente. Acolher a Jilly tem sido complicado e ainda não é uma situação resolvida. Não sei se consigo passar por isso outra vez.”
Blaine sorriu-lhe.
“Encara as coisas um dia de cada vez,” Disse ele. “E faças o que fizeres, será sempre o melhor para ele.”
Riley abanou a cabeça tristemente.
“Quem me dera ter a certeza,” Disse ela.
Blaine segurou na mão de Riley.
“Bem, acredita no que te digo,” Disse ele. “O que já fizeste pelo Liam e pela Jilly é maravilhoso e generoso. Admiro-te muito por isso.”
Riley sentiu um nó na garganta. Quantas vezes alguém lhe dizia coisas daquelas? Era muitas vezes elogiada no seu trabalho na UAC e até recebera uma Medalha de Perseverança recentemente. Mas não estava habituada a ser elogiada por coisas simples. Nem sabia como lidar com isso.
Então Blaine disse, “És uma boa mulher, Riley Paige.”
Riley sentiu lágrimas nos olhos. Riu-se nervosamenteao limpá-las.
“Oh, vê só o que fizeste,” Disse ela. “Fizeste-me chorar.”
Blaine encolheu os ombros e irradiou um sorriso delicado.
“Desculpa. Só estou a tentar ser brutalmente honesto. Acho que às vezes a verdade dói.”
Riram-se durante alguns momentos.
Por fim, Riley disse, “Mas não te perguntei pela tua filha. Como tem passado a Crystal?”
Blaine desviou o olhar com um sorriso agridoce.
“A Crystal está ótima – boas notas, feliz e alegre. Agora está na praia com os primos e a minha irmã.”
Blaine suspirou. “Só se passaram alguns dias, mas já estou cheio de saudades.”
Riley ficou novamente à beira de chorar. Sempre soubera que Blaine era um pai extraordinário. Como seria ter uma relação mais permanente com ele?
Calma, Disse a si própria. Não nos apressemos.
Entretanto, já quse tinha terminado o seu cheesecake de framboesa.
“Obrigada, Blaine,” Disse ela. “Foi uma noite maravilhosa.”
Fitando-o mais intensamente, acrescentou, “Odeio vê-la terminar.”
Olhando para ela com a mesma intensidade, Blaine apertou-lhe a mão.
“Quem diz que tem que acabar?” Perguntou ele.
Riley sorriu. Ela sabia que o seu sorrido era suficiente para responder à sua pergunta.
No final de contas, porque é que a sua noite deveria terminar? O FBI estava a guardar a sua família e nenhum assassino exigia a sua atenção.
Talvez tivesse chegado o momento de se divertir.
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