Читать книгу «Morte e um Cão» онлайн полностью📖 — Фионы Грейс — MyBook.


Taryn era dona da loja ao lado. Era uma mulher esnobe e mesquinha, a quem Lacey havia concedido o título de Pessoa Mais Chata de Wilfordshire. Ela estava sempre tentando prejudicar Lacey para expulsá-la da cidade. Taryn fez tudo o que estava ao seu alcance para frustrar as tentativas de Lacey de iniciar um negócio na cidade, até furou buracos na parede de sua própria loja só para irritá-la! E embora a mulher tenha pedido uma trégua depois que seu ajudante levou as coisas um pouco longe demais e foi pego perambulando do lado de fora do chalé de Lacey uma noite, Lacey não estava tão certa de que podia confiar nela novamente. Taryn havia jogado sujo. Aquele certamente era mais um de seus truques. Para começar, não havia como ela não saber que a lombada estava lá – dava para vê-la da vitrine de sua própria loja, pelo amor de Deus! Então, ela passou pela lombada rápido demais de propósito. Depois, para completar, ela estacionou em frente à loja de Lacey, em vez de para em frente à sua, na tentativa de bloquear a vista ou para bombear fumaça na direção dela.

"Sinto muito", repetiu o homem, trazendo a atenção de Lacey de volta ao momento. Ele ainda estava segurando a estatueta, agora com apenas um braço. "Por favor. Deixe-me pagar pelo dano".

"De jeito nenhum", Lacey falou com firmeza. "O senhor não fez nada de errado". Ela olhou por cima do ombro, em direção à vitrine, estreitando os olhos e fixando-os em Taryn, seguindo a mulher enquanto ela caminhava cautelosamente para a traseira da van como se nada tivesse acontecido. A irritação de Lacey com a dona da boutique ficou mais forte. "Se alguém tem culpa, é a motorista". Ela fechou as mãos em punhos. "Parece até que foi de propósito… Ai!"

Lacey sentiu algo afiado na palma da mão. Ela havia apertado o braço quebrado da bailarina com tanta força que se cortou.

"Ah!" o homem exclamou ao ver o glóbulo brilhante de sangue crescendo na palma da mão dela. Ele tirou rapidamente o braço de cristal ofensivo da mão dela, como se removê-lo pudesse, de alguma forma, curar a ferida. "Você está bem?"

"Por favor, me dê licença por um instante", disse Lacey.

Então, ela se dirigiu para a porta, deixando o homem confuso para trás em sua loja, segurando uma bailarina quebrada em uma mão e um braço sem corpo na outra, e caminhou pisando forte até a rua. Ela só parou quando se viu diante de sua vizinha/nêmesis.

"Lacey!" Taryn falou sorrindo enquanto levantava a porta da mala da van. "Espero que você não se importe de eu estacionar aqui? Preciso descarregar o estoque da nova temporada. O verão não é a melhor estação da moda?"

"Eu não ligo para você estacionar aí", disse Lacey. "Mas lembro que você passou rápido demais pela lombada. Você sabe que ela fica bem na frente da minha loja. O barulho quase causou um ataque cardíaco no meu cliente".

Ela observou então que Taryn também havia estacionado de tal maneira que sua volumosa van bloqueou a visão que Lacey tinha do outro lado da rua até a confeitaria de Tom. Aquilo definitivamente foi proposital!

"Entendi", disse Taryn, fingindo simpatia. "Vou dirigir mais devagar quando chegar a hora de abastecer a loja com o estoque da temporada de outono. Ei, você devia dar uma passadinha na boutique depois que eu arrumar tudo isso. Mudar seu guarda-roupa. Dar um mimo para si mesma. Você merece". Seus olhos percorreram a roupa de Lacey. "E certamente está na hora".

"Vou pensar sobre isso", disse Lacey sem emoção, imitando o sorriso falso de Taryn.

No segundo em que ela deu as costas para a mulher, seu sorriso se transformou em uma careta. Taryn realmente era a rainha das indiretas.

Quando voltou à loja, Lacey descobriu que seu cliente idoso estava esperando no balcão e uma segunda pessoa – um homem de terno escuro – também havia entrado. Ele examinava a prateleira repleta de itens náuticos que Lacey planejava leiloar amanhã, sendo observado atentamente por Chester, o cachorro. Ela podia sentir o cheiro de loção pós-barba, mesmo a distância.

"Eu atenderei você em um instante", Lacey falou para o novo cliente enquanto corria em direção à parte de trás da loja, onde o senhor idoso estava esperando.

"Sua mão está bem?" o homem perguntou a ela.

"Perfeitamente bem". Ela olhou para o pequeno corte na palma da mão, que já havia parado de sangrar. "Desculpe por sair assim. Eu tinha…", ela escolheu as palavras com cuidado, "algo para tratar".

Lacey estava determinada a não deixar Taryn derrubá-la. Se deixasse a dona da boutique irritá-la, seria como marcar um gol contra.

Quando Lacey deslizou para trás do balcão de vendas, ela notou que o senhor idoso havia colocado a estatueta quebrada sobre ele.

"Gostaria de comprá-la", ele anunciou.

"Mas está quebrada’", respondeu Lacey. Obviamente, ele estava apenas tentando ser gentil, apesar de não ter motivos para se sentir mal com o incidente. Realmente não tinha sido culpa dele.

"Eu a quero mesmo assim".

Lacey corou. Ele realmente estava inflexível.

"Posso tentar consertar primeiro, pelo menos?" ela disse. "Eu tenho um pouco de super cola e…"

"De jeito nenhum!" o homem interrompeu. "Eu a quero exatamente como está. Veja bem, agora ela me lembra ainda mais minha esposa. Era isso que eu estava prestes a dizer quando a van nos interrompeu. Ela foi a primeira bailarina da Royal Ballet Society com uma deficiência". Ele levantou a estatueta, girando-a na luz. A luz captou o braço direito estendido, que ainda parecia elegante, apesar de parar em um toco irregular no cotovelo. "Ela dançava com um braço só".

As sobrancelhas de Lacey se levantaram. A boca dela se abriu. "Não pode ser!"

O homem assentiu ansiosamente. "É verdade! Você não vê? Isso foi um sinal dela".

Lacey não pôde deixar de concordar. Ela estava procurando seu próprio fantasma, afinal, na figura de seu pai, por isso vivia particularmente sensível aos sinais do universo.

"Então o senhor tem razão, precisa levá-la", disse Lacey. "Mas não posso cobrar por isso".

"Você tem certeza?" o homem perguntou, surpreso.

Lacey sorriu. "Cem por cento! Sua esposa enviou um sinal para você. A estatueta é sua por direito".

O homem pareceu emocionado. "Obrigado".

Lacey começou a embrulhar a estatueta em papel de seda para ele. "Vamos garantir que ela não perca mais nenhum membro, não é?"

"Você vai realizar um leilão, pelo que vejo", disse o homem, apontando por cima do ombro para o pôster pendurado na parede.

Ao contrário dos cartazes grosseiros desenhados à mão que divulgaram seu último leilão, Lacey havia contratado um profissional para fazer aquele cartaz. Era decorado com imagens náuticas: barcos, gaivotas e uma moldura inspirada nas bandeirolas azuis e brancas em xadrez, em homenagem à obsessão por bandeirolas de Wilfordshire.

"Isso mesmo", disse Lacey, sentindo uma onda de orgulho no peito. "É o meu segundo leilão. Será composto exclusivamente por itens da Marinha antigos. Sextantes. Âncoras. Telescópios. Vou vender uma variedade de tesouros. Talvez você queira participar?"

"Talvez eu queira", o homem respondeu com um sorriso.

"Vou colocar um folheto na sacola para você".

Lacey fez exatamente isso, depois entregou ao homem sua preciosa estatueta do outro lado do balcão. Ele agradeceu e se afastou.

Lacey observou o homem idoso sair da loja, tocada pela história que ele compartilhou com ela, antes de lembrar que tinha outro cliente para atender.

Ela olhou para a direita para voltar sua atenção para o outro homem. Só que agora notou que ele havia ido embora. Ele saiu silenciosamente, despercebido, antes que ela tivesse a chance de ver se precisava de ajuda.

Ela foi até a área que ele estava examinando – a prateleira inferior onde havia colocado caixas cheias de todos os itens que venderia no leilão de amanhã. Um cartaz com a letra de Gina dizia: Nada deste lote é para venda normal. Tudo será leiloado! Ela havia desenhado o que parecia ser uma caveira e ossos cruzados embaixo, evidentemente confundindo o tema da Marinha com um tema pirata. Espero que o cliente tenha visto a placa e voltasse amanhã para dar lances no item em que parecia estar tão interessado.

Lacey pegou uma das caixas cheias de itens que ela ainda não tinha avaliado e a levou de volta para a mesa. Enquanto pegava item após item, alinhando-os sobre o balcão, um sentimento de animação percorreu-a. Seu último leilão foi maravilhoso, mas moderado pelo fato dela estar procurando por um assassino, na época. Este ela seria capaz de desfrutar plenamente. Ela realmente teria a chance de exercitar suas habilidades como leiloeira, e literalmente mal podia esperar!

Ela havia acabado de entrar num estado de total concentração, avaliando e catalogando os itens, quando foi interrompida pelo som estridente de seu celular. Um pouco frustrada por ser perturbada por, sem dúvida, sua irmã caçula exagerada, Naomi, a respeito de uma crise melodramática de mãe solteira, Lacey olhou para o celular, que estava com a tela voltada para cima, sobre o balcão. Para sua surpresa, o nome que piscava no visor era o de seu ex-marido David, de quem havia recentemente se divorciado.

Lacey olhou para a tela piscando por um momento, atordoada demais para agir. Um tsunami de emoções diferentes a invadiu. Ela e David não haviam trocado uma palavra desde o divórcio – embora ele ainda parecesse conversar com a mãe de Lacey, justo ela – e havia lidado com todo o processo através de seus advogados. Mas ele estar ligando diretamente para ela? Lacey nem sabia por onde começar a teorizar por que ele estaria fazendo isso.

Contrariando seu instinto, Lacey atendeu.

"David? Está tudo bem?"

"Não, não está", ele falou com a voz aguda, trazendo à tona um milhão de lembranças latentes que estavam adormecidas na mente de Lacey, como poeira levantada.

Ela ficou tensa, preparando-se para uma terrível bomba. "O que foi? O que aconteceu?"

"Sua pensão não chegou".

Lacey revirou os olhos com tanta força que doeu. Dinheiro. Claro. Nada importava mais para David do que dinheiro. Um dos aspectos mais ridículos de seu divórcio foi o fato de ela ter que pagar apoio financeiro conjugal a ele, porque ela era o membro do casal que ganhava mais. Lacey concluiu que a única coisa que o obrigava a fazer contato real com ela seria isso.

"Mas eu coloquei em débito automático", disse Lacey. "O banco paga automaticamente".

"Bem, é claro que os britânicos têm uma interpretação diferente da palavra automático", disse ele, arrogante. "Jé que nenhum valor foi depositado na minha conta bancária e, se você não sabia, o prazo vence hoje! Então, sugiro que você ligue imediatamente para o seu banco e resolva a situação".

Ele parecia um diretor de escola. Lacey esperava que ele terminasse seu monólogo com a frase "sua garotinha boba".

Ela apertou o celular com força, tentando ao máximo não deixar David irritá-la, não hoje, na véspera do seu leilão, pelo qual ela estava tão ansiosa!

"Que sugestão inteligente, David",