"Ela não está pronta," respondeu Meredith, sabendo claramente que Bill queria que a incluíssem. Bill suspirou.
"Senhor," respondeu ele, "ela conhece o caso melhor que ninguém. E não há ninguém mais esperto." Depois de outra pausa, Bill revelou o que ele estava realmente pensando.
"Eu não acho que podemos fazer isso sem ela."
Meredith bateu um lápis contra um bloco de papel algumas vezes, desejando claramente que ele estivesse em qualquer outro lugar, menos ali.
"É um erro," disse ele. "Mas, se ela perder o controle, é seu erro." Ele exalou novamente. "Chame-a."
Parecia que a adolescente que abriu a porta iria batê-la na cara de Bill. Ao invés disso, ela se virou e foi embora sem dizer uma palavra, deixando a porta aberta.
Bill entrou.
"Oi, April," disse ele automaticamente.
A filha de Riley, uma garota mal-humorada e desengonçada de quatorze anos de idade, que tinha cabelos castanhos escuros e os olhos de sua mãe, não respondeu. Vestida apenas com uma camiseta de grandes dimensões e com seu cabelo bagunçado, April virou em um canto e estatelou-se no sofá, alienada a tudo, exceto a seus fones de ouvido e telefone celular.
Bill ficou ali, sem jeito, sem saber o que fazer. Quando ele ligara para Riley, ela havia concordado com sua visita, embora com relutância. Será que ela tinha mudado de ideia?
Bill olhava ao seu redor enquanto andava pela casa mal iluminada. Ele atravessou a sala e viu tudo limpo e em seu lugar, o que era característico de Riley. No entanto, ele também notou as cortinas fechadas e uma camada fina de poeira sobre os móveis – e isto não tinha nada a ver com ela. Em uma estante, ele avistou uma fileira de livros thrillers novos em folha, que ele tinha comprado para ela durante a sua licença, na esperança de que assim ela tiraria os problemas de sua mente. Nenhum dos livros parecia ter sido aberto.
A sensação de apreensão de Bill se aprofundou. Aquela não era a Riley que ele conhecia. Meredith estava certo? Será que ela precisava de mais tempo de licença? Ele estava fazendo a coisa errada ao entrar em contato com ela antes de ela estar pronta?
Bill preparou-se e foi adentrando a casa escura e, quando ele virou em um canto, encontrou Riley, sozinha na cozinha, sentada à mesa de fórmica, com seu roupão e chinelos e uma xícara de café a sua frente. Ela olhou para cima e viu um lampejo de constrangimento, como se ela tivesse esquecido que ele viria. Mas ela rapidamente disfarçou com um sorriso fraco e se levantou.
Ele se adiantou e a abraçou e ela retribuiu fracamente o abraço. Usando chinelos, ela estava um pouco mais baixa do que ele. Ela tinha se tornado muito, muito magra, e isso o deixou mais preocupado.
Sentou-se à mesa com ela e a examinou. Seu cabelo estava limpo, mas não estava penteado, e parecia que ela estava usando aqueles chinelos há dias. Seu rosto parecia magro, muito pálido e muito, muito mais velho desde que ele a vira pela última vez, há cinco semanas. Parecia que ela tinha passado pelo inferno. E ela tinha. Ele tentou não pensar sobre o que o último assassino tinha feito com ela.
Ela desviou o olhar, e ambos ficaram ali sentados, com aquele denso silêncio. Bill tinha tanta certeza que ele saberia exatamente o que dizer para animá-la, despertá-la; porém, quando ele se sentou lá, sentiu-se consumido pela tristeza dela e ficou sem palavras. Ele queria vê-la com um olhar mais forte, como ela era antes.
Ele rapidamente escondeu o envelope com os arquivos sobre o novo caso de assassinato no chão, do lado da cadeira. Ele não tinha certeza agora se deveria mesmo mostrar a ela. Estava começando a ter certeza de que tinha cometido um erro ao ir ali. Claramente, ela precisava de mais tempo. Na verdade, vendo-a naquele estado, ele, pela primeira vez, ficou incerto sobre se sua parceira de longa data um dia voltaria.
"Café?" Ela perguntou. Ele podia sentir sua inquietação.
Ele balançou a cabeça. Ela estava claramente frágil. Quando ele a visitou no hospital e até mesmo depois que ela voltara para casa, ele ficou preocupado com ela. Bill se perguntou se ela conseguiria deixar para trás a dor e o terror que sofrera, se sairia das profundezas de sua escuridão de longa data. Ela estava tão diferente; parecia invencível em todos os outros casos. Algo sobre este último caso, este último assassino, era diferente. Bill conseguia entender: o homem tinha sido o psicopata mais perverso que ele já havia conhecido – e isso significava muito.
Enquanto ele a analisava, algo lhe passou pela cabeça. Ela realmente aparentava a idade que tinha. Ela tinha quarenta anos de idade, a mesma idade que ele, mas, quando trabalhava, quando era animada e estava noiva, sempre pareceu vários anos mais jovem. A cor cinza estava começando a despontar em seu cabelo escuro. Bem, seu próprio cabelo também estava ficando.
Riley gritou para a filha, "April!"
Sem resposta. Riley chamou o nome dela várias vezes, cada vez mais alto, até que ela finalmente respondeu. "O quê?" April respondeu da sala de estar, parecendo completamente irritada.
"Que horas é a sua aula hoje?"
"Você sabe."
"Apenas me diga, ok?"
"Oito e meia."
Riley franziu a testa e parecia chateada. Ela olhou para Bill.
"Foi reprovada em Inglês. Cabulou aulas demais. Eu estou tentando ajudá-la a sair dessa."
Bill balançou a cabeça, entendendo muito bem. A vida na agência exigia muito de todos eles, e suas famílias eram as mais afetadas.
"Sinto muito," ele disse. Riley deu de ombros.
"Ela tem quatorze anos. E me odeia."
"Isso não é bom."
"Eu odiava todo mundo quando eu tinha quatorze anos," ela respondeu. "Você não?" Bill não respondeu. Era difícil imaginar que Riley um dia odiou todo mundo.
"Espere até seus meninos alcançarem essa idade," disse Riley. "Quantos anos eles têm agora? Eu esqueci."
"Oito e dez," respondeu Bill, depois sorriu. "Do jeito que as coisas estão indo com Maggie, nem sei se estarei na vida deles quando tiverem a idade de April."
Riley levantou a cabeça e olhou para ele, preocupada. Ele sentia falta daquele olhar carinhoso.
"Está tão ruim assim, hein?" – disse ela.
Ele desviou o olhar, não querendo pensar nisso. Os dois ficaram em silêncio por um momento.
"O que é que você está escondendo no chão?" Ela perguntou.
Bill olhou para baixo, depois voltou a olhar para cima e sorriu; mesmo daquele jeito, ela nunca deixava nada passar despercebido.
"Eu não estou escondendo nada," disse Bill, pegando o envelope e colocando-o sobre a mesa. "É só algo que eu gostaria de conversar com você."
Riley sorriu abertamente. Era óbvio que ela sabia muito bem o que ele estava realmente fazendo ali.
"Mostre-me," disse ela e depois acrescentou, olhando nervosamente para April, "Vamos lá pra trás. Eu não quero que ela veja."
Riley tirou os chinelos e entrou no quintal com os pés descalços à frente de Bill. Eles se sentaram em uma mesa de piquenique de madeira que já estava lá bem antes de Riley ter se mudado, Bill olhou ao redor do pequeno quintal para a única árvore. Havia florestas por todos os lados. Isso o fazia esquecer que ele estava perto de uma cidade.
Isolado demais, ele pensou.
Ele nunca sentiu que aquele lugar era bom para Riley. A casa pequena no estilo de fazenda ficava quinze milhas fora da cidade, estava degradada e sem graça. Ficava perto de uma estrada secundária, com nada além de florestas e pastagens à vista. Não que ele achasse que a vida suburbana servisse para ela. Ele tinha dificuldade em imaginá-la fazendo um circuito de coquetéis e festas. Ela ainda podia, pelo menos, dirigir em Fredericksburg e pegar a Amtrak para Quantico quando ela voltava do trabalho. Quando ela ainda conseguia trabalhar.
"Mostre-me o que você tem," disse ela.
Ele abriu os relatórios e fotografias sobre a mesa.
"Lembra-se do caso Daggett?" Ele perguntou. "Você estava certa. O assassino não tinha acabado." Ele viu seus olhos se arregalarem quando ela se debruçou sobre as imagens. Um longo silêncio caiu enquanto ela estudava os
arquivos intensamente, ele se perguntou se era isso que ela precisava para voltar – ou se isso iria mantê-la afastada.
"Então, o que você acha?" Ele finalmente perguntou.
Outro silêncio. Ela ainda não tirara os olhos do arquivo.
Finalmente, ela olhou para cima e, logo em seguida, ele ficou chocado ao ver lágrimas nos seus olhos. Ele nunca a tinha visto chorar antes, nem mesmo nos piores casos, diante de um cadáver. Aquela não era a Riley que ele conhecia. Aquele assassino havia feito alguma coisa a ela, mais do que ele sabia.
Ela sufocou um soluço.
"Estou com medo, Bill," disse ela. "Tenho tanto medo. O tempo todo. De tudo."
Bill sentiu seu coração apertar ao vê-la assim. Ele se perguntou para onde a antiga Riley tinha ido, a única pessoa que ele sempre podia contar, que era mais durona do que ele, a fortaleza que ele poderia sempre recorrer em tempos de angústia. Ele sentia falta dela mais do que ele era capaz de dizer.
"Ele está morto, Riley," ele falou, no tom mais confiante que conseguiu fazer. "Ele não pode te machucar mais."
Ela balançou a cabeça. "Você não sabe disso."
"Claro que sei," respondeu ele. "Eles encontraram o seu corpo após a explosão."
"Não conseguiram identificá-lo," disse ela.
"Você sabe que era ele."
O rosto dela caiu para a frente e ela cobriu-o com uma mão enquanto chorava. Ele segurou sua outra mão sobre a mesa.
"Este é um novo caso," ele falou. "Não tem nada a ver com o que aconteceu com você." Ela balançou a cabeça.
"Não importa."
Lentamente, enquanto chorava, ela estendeu a mão e entregou-lhe o arquivo, desviando o olhar.
"Sinto muito," disse ela, olhando para baixo, segurando com a mão trêmula. "Acho que você deve ir," acrescentou.
Bill, chocado, entristecido, estendeu a mão e pegou a pasta de volta. Nunca, em um milhão de anos, ele teria esperado este resultado.
Bill ficou ali sentado por um momento, lutando contra suas próprias lágrimas. Finalmente, ele gentilmente afagou-lhe a mão, levantou-se da mesa e fez o seu caminho de volta pela casa. April ainda estava sentada na sala de estar, de olhos fechados, balançando a cabeça com sua música.
Riley permaneceu sentada, chorando sozinha na mesa de piquenique após Bill ir embora.
Eu achei que estava bem, ela pensou.
Ela realmente queria ficar bem, por Bill. E ela pensou que poderia realmente aguentar. Ficar sentada na cozinha, falando sobre trivialidades tinha sido fácil. Em seguida, eles tinham ido para fora e, quando ela tinha visto o arquivo, ela pensou que continuaria bem, também. Melhor do que bem até. Ela estava acreditando nisso. Seu antigo desejo pelo trabalho foi reacendido, ela queria voltar a campo. Ela estava compartimentalizando, é claro, pensando naqueles assassinatos quase idênticos como se fossem um quebra-cabeça para resolver, quase em abstrato, um jogo intelectual. O que também foi bom. Sua terapeuta tinha lhe dito que ela teria que fazer isso se ela tivesse expectativas de voltar a trabalhar.
Mas, então, por algum motivo, o quebra-cabeça intelectual se tornou o que ele realmente e verdadeiramente era – uma tragédia humana monstruosa em que duas mulheres inocentes morreram perante dor e terror imensuráveis. E ela se perguntou de repente: Foi tão ruim para elas como fora para mim?
Seu corpo foi então inundado por pânico e medo. E constrangimento, vergonha. Bill era seu parceiro e seu melhor amigo. Devia-lhe muito. Ele ficara com ela durante as últimas semanas, quando ninguém mais o fizera. Ela não teria aguentado seus dias no hospital sem ele. A última coisa que ela queria era que ele a visse reduzida a um estado de desamparo.
Ela ouviu April gritar atrás da porta de tela. "Mãe, nós temos que comer agora ou vou me atrasar."
Ela sentiu vontade de gritar de volta, "Prepare o seu próprio café da manhã!"
Mas ela não o fez. Ela estava há muito tempo exausta de suas batalhas com April. Ela desistiu de lutar.
Então levantou-se da mesa e caminhou de volta para a cozinha. Puxou uma toalha de papel fora do rolo e o utilizou para limpar as lágrimas e assoar o nariz, em seguida, preparou-se para cozinhar. Tentou recordar as palavras de seu terapeuta: Mesmo tarefas de rotina vão requerer muito esforço consciente, pelo menos por um tempo. Ela tinha que se contentar em fazer as coisas com um passo de bebê de cada vez.
Primeiro, ela tirou as coisas fora da geladeira – a caixa de ovos, o pacote de bacon, o prato com manteiga, o pote de geleia, porque April gostava de geleia mesmo que ela não gostasse. E então ela colocou seis tiras de bacon em uma panela sobre o fogão e ligou o fogo a gás debaixo da panela.
Ela cambaleou para trás com a visão da chama amarelo-azul. Fechou os olhos e tudo lhe veio à tona.
Riley estava em forro apertado, debaixo de uma casa, em uma pequena jaula improvisada. A tocha de propano era a única luz que ela podia enxergar. O resto do tempo estivera em uma completa escuridão. O piso do forro era de terra. O assoalho acima dela era tão baixo que ela mal conseguia agachar.
A escuridão era total, mesmo quando ele abriu uma pequena porta e entrava no foro, junto com ela. Ela não podia vê-lo, mas podia ouvir sua respiração e seus grunhidos. Ele destrancava a jaula e a abria e então entrava.
E só então ele acendia a tocha. Ela podia ver seu rosto cruel e feio sob a luz. Ele a insultava com um prato de comida miserável. Se tentasse pegá-lo, ele empurrava a chama para ela. Ela não podia comer sem se queimar…
Ela abriu os olhos. As imagens eram menos vivas com os olhos abertos, mas ela não conseguia afastar a corrente de memórias. Continuou preparando o café da manhã, todo o seu corpo se agitando com a adrenalina. Ela estava arrumando a mesa quando a voz de sua filha gritou novamente.
"Mãe, quanto tempo vai demorar?"
Ela deu um salto, o prato escorregou de sua mão, caiu no chão e quebrou. "O que aconteceu?" April gritou, aparecendo ao lado dela.
"Nada," disse Riley.
Ela limpou a sujeira e, enquanto ela e April sentavam para comer juntas, a hostilidade silenciosa era quase palpável, como de costume. Riley queria acabar com esse clima, se aproximar de April e dizer, April, sou eu, sua mãe, eu te amo. Mas ela já tinha tentado tantas vezes e isso só piorava. Sua filha a odiava, e ela não conseguia entender o motivo, nem como acabar com isso.
"O que você vai fazer hoje?" ela perguntou a April.
"O que você acha?" April retrucou. "Vou para a aula."
"Quero dizer depois disso," disse Riley, mantendo a voz calma, compassiva. "Eu sou sua mãe. Gostaria de saber. É normal."
"Nada na nossa vida é normal."
Elas comeram em silêncio por alguns momentos.
"Você nunca me conta nada," disse Riley.
"Nem você."
Isso acabou com qualquer esperança de ter uma conversa de uma vez por todas.
Isso é justo, Riley pensou amargamente. Era mais verdadeiro do que April imaginava. Riley nunca lhe contava coisas sobre seu trabalho, seus casos; ela nunca tinha contado sobre seu cativeiro, nem sobre seu tempo no hospital, ou por que ela estava "de férias" agora. Tudo o que April sabia era que ela teve que viver com seu pai durante grande parte desse tempo e ela o odiava ainda mais do que odiava Riley. Mas, por mais que ela quisesse conversar, Riley achava melhor que April não tivesse nem ideia sobre o que sua mãe havia passado.
Riley se arrumou e levou April para a escola, elas não trocaram nenhuma palavra durante o caminho. Quando April saiu do carro, ela gritou para ela: "Vejo você às dez."
April lhe deu um tchau descuidado, enquanto se afastava.
Riley dirigiu até um café nas proximidades. Tinha se tornado uma rotina para ela. Era difícil para ela passar algum tempo em um lugar público, e ela sabia que era exatamente por isso que ela precisava fazê-lo. O café era pequeno e nunca estava cheio, mesmo no período da manhã como aquele e, por isso ela o achou relativamente inofensivo.
Enquanto estava sentada ali, bebendo um cappuccino, lembrou-se novamente do pedido de Bill. Fazia seis semanas, caramba. Aquilo precisava mudar. Ela precisava mudar. Ela não sabia como iria fazer isso.
Mas uma ideia estava se formando. Riley sabia exatamente o que precisava fazer primeiro.
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