Não havia nada de especialmente errado com aqueles prédios – era um edifício de tijolo vermelho. Mas Riley não conseguia evitar lembrar-se da simpática casa suburbana em que Bill vivera antes do divórcio. Em comparação, aquele lugar não tinha charme e Bill vivia sozinho. Não era uma situação feliz para o seu melhor amigo.
Riley caminhou na direção do prédio rumo ao apartamento de Bill que ficava no segundo andar. Bateu à porta e esperou.
Ninguém respondeu. Bateu outra vez e ainda assim não obteve resposta.
Pegou no telemovel e viu que a sua mensagem ainda não tinha sido lida.
Ficou preocupada. Será que tinha acontecido alguma coisa a Bill?
Colocou a mão na maçaneta e girou-a.
Para sua preocupação, a porta estava destrancada e abriu sem dificuldade.
CAPITULO OITO
Parecia que o apartamento de Bill tinha sido arrombado. Riley congelou à porta durante uns instantes, prestes a sacar a arma em caso de um intruso ali se encontrar.
Depois descontraiu. As coisas espalhadas por todo o lado eram embalagens de comida, pratos sujos e copos. O apartamento estava completamente desarrumado, mas era uma desarrumação pessoal.
Chamou por Bill.
Não obteve resposta.
Chamou outra vez.
Desta vez pareceu-lhe ouvir um grunhido de um compartimento próximo.
O seu coração bateu com mais força ao aproximar-se do quarto de Bill. O quarto estava mal iluminado e as persianas estavam corridas. Bill estava deitado na cama desfeita, usando roupas amarrotadas e olhando para o teto.
“Bill, porque é que não me respondeste quando chamei por ti?” Perguntou Riley um pouco irritada.
“Eu respondi,” Disse ele num sussurro. “Tu é que não me ouviste. Importaste-te de fazer menos barulho?”
Riley viu uma garrafa de bourbon quase vazia na mesa de cabeceira. De repente, tudo fez sentido. Riley sentou-se à beira da cama.
“Tive uma noite complicada,” Disse Bill, tentando forçar um riso fraco. “Sabes como é.”
“Sim, sei,” Disse Riley.
Afinal de contas, o desespero tinha-a levado às suas próprias bebedeiras e ressacas.
Riley tocou na sua testa, imaginando como ele se devia sentir doente.
“O que é que te levou a beber?” Perguntou Riley.
“Os meus rapazes,” Disse ele.
Depois calou-se. Riley não via os dois filhos de Bill há algum tempo. Imaginava que teriam nove e onze anos por aquela altura.
“O que têm eles?” Perguntou Riley.
“Vieram visitar-me ontem. Não correu bem. A casa estava uma confusão e eu estava irritável e instável. Estavam ansiosos para ir para casa. Riley, foi horrível. Mais uma visita daquelas e a Maggie não me deixar voltar a vê-los. Ela está só à procura de uma desculpa para os tirar de vez da minha vida.”
Bill fez um ruído parecido com um soluço. Mas ao mesmo tempo não parecia ter energia para chorar. Riley suspeitou que já chorara muito sozinho.
Bill disse, “Riley, se não presto como pai, o que é que valho? Não valho nada como agente, já não. O que é que me resta?”
Riley sentiu um nó na garganta.
“Bill, não fales assim,” Disse ela. “És um pai fantástico. E és um grande agente. Talvez não hoje, mas em todos os outros dias do ano.”
Bill abanou a cabeça, cansado.
“Não me senti um bom pai ontem. E continuo a ouvir aquele tiro. Continuo a lembrar-me de ir na direção daquele edifício, de ver a Lucy lá deitada a sangrar.”
Riley estremeceu.
Também ela se lembrava de tudo demasiado bem.
Lucy tinha entrado no edifício abandonado sem consciência do perigo e fora abatida por um atirador. Surgindo pouco depois dela, Bill tinha atirado por engano contra o homem que a tentava ajudar. Quando Riley chegou, Lucy usara as suas últimas forças para abater o atirador com vários tiros.
Lucy morrera pouco depois.
Fora uma cena horrível.
Riley não se recordava de muitas situações mais dramáticas em toda a sua carreira.
Ela disse, “Eu cheguei lá mais tarde do que tu.”
“Sim, mas não atiraste contra um miúdo inocente.”
“A culpa não foi tua. Estava escuro. Não tinhas forma de saber. Para além disso, o rapaz agora está bem.”
Bill abanou a cabeça. Ergueu uma mão tremente.
“Olha para mim. Pareço o tipo de homem que vai conseguir voltar a trabalhar?”
Agora Riley estava quase zangada. Ele realmente tinha um péssimo aspeto – nada semelhante ao parceiro astuto e corajoso parceiro a que aprendera a confiar a vida, nem parecido com o homem atraente por quem se sentira atraída ocasionalmente.
Mas lembrou-se…
Eu já passei por aquilo. Eu sei como é.
E quando estivera assim, Bill sempre lá estivera para a ajudar.
Por vezes tivera que ser duro com ela.
Ela calculou que ele agora precisava de alguma dessa dureza.
“Estás com um péssimo aspto,” Disse ela. “Mas o estado em que estás agora – bem, fizeste-o a ti próprio. E és o único que pode reverter as coisas.”
Bill olhou-a nos olhos. Ela pressentiu que ele agora estava a prestar-lhe atenção.
“Senta-te,” Disse ela. “Recompõe-te.”
Bill sentou-se com dificuldade na beira da cama ao lado de Riley.
“O FBI atribuiu-te um terapeuta?” Perguntou ela.
Bill anuiu.
“Quem é ele?” Perguntou Riley.
“Não interessa,” Disse Bill.
“Podes crer que interessa,” Disse Riley. “Quem é ele?”
Bill não respondeu. Mas Riley podia adivinhar. O psiquiatra de Bill era Leonard Ralston, mais conhecido pelo publico como “Dr. Leo”. Riley sentiu-se invadir por uma fúria ilimitada. Mas agora não era com Bill que estava zangada.
“Oh meu Deus,” Disse ela. “Puseram-te com o Dr. Leo. De quem foi a ideia?Do Walder, aposto.”
“Como disse, não interessa.”
Riley queria abaná-lo.
“Ele é um charlatão,” Disse ela. “Sabes isso tão bem quanto eu. Dedica-se à hipnose, memórias recuperadas, todo o tipo de merda sem crédito nenhum. Não te lembras no ano passado quando ele convenceu um homem inocente de que era culpado de homicídio? O Walder gosta do Dr. Leo porque escreveu livros e aparece muitas vezes na televisão.”
“Não o deixo mexer com a minha cabeça,” Disse Bill. “Não o deixo hipnotizar-me.”
Riley estava a tentar manter a sua voz sob controlo.
“Não é essa a questão. Tu precisas de alguém que te ajude.”
“E quem me poderá ajudar?” Perguntou Bill.
Riley não teve que pensar mais do que alguns segundos na resposta.
“Vou-te preparar café,” Disse ela. “Quando voltar, espero que estejas de pé e pronto para sair daqui.”
A caminho da cozinha de Bill, Riley olhou para o relógio. Tinha pouco tempo antes do aviao decolar. Tinha que agir rapidamente.
Pegou no telemóvel e ligou para o número pessoal de Mike Nevins, o psiquiatra forense de DC que trabalhava ocasionalmente para o FBI. Riley considerava-o um bom amigo que a ajudara a ultrapassar crises no passado, incluindo um terrível caso de SPT.
Quando o telefone de Mike começou a tocar, ela colocou o telemóvel em alta voz, deixou-o no balcão da cozinha e começou a preparar o café de Bill. Ficou aliviada quando Mike atendeu.
“Riley! Que bom ter notícias tuas! Como vão as coisas? Como vai essa tua família em crescimento?”
O som da voz de Mike era refrescante e quase conseguia visualizar a expressão agradável do homem bem vestido. Ela gostava de poder conversar com ele, mas agora não havia tempo para isso.
“Estou bem, Mike. Mas estou com pressa. Tenho que apanhar um avião daqui a pouco. Preciso de um favor.”
“Diz,” Disse Mike.
“O meu parceiro, Bill Jeffreys, está a passar por um mau bocado depois do nosso último caso.”
Ouviu uma nota de genuína preocupação na voz de Mike.
“Oh, é verdade, ouvi falar. Que coisa terrível, a morte de uma tua jovem protegida. É verdade que o teu parceiro está de licença? Algo relacionado com disparar sobre o homem errado?”
“Sim. Ele precisa de ajuda e precisa já. Ele está a beber, Mike. Nunca o vi tão mal.”
Seguiu-se um breve silêncio.
“Não tenho a certeza se compreendo,” Disse Mike. “Não lhe foi dessignado um terapeuta?”
“Sim, mas não está a fazer bem nenhum ao Bill.”
Agora havia uma nota de cautela na voz de Mike.
“Não sei, Riley. Geralmente não me sinto confortável em aceitar pacientes que já estão a ser acompanhados por outra pessoa.”
Riley ficou preocupada. Ela não tinha tempo para lidar com os escrúpulos éticos de Mike naquele momento.
“Mike, foi-lhe atribuído o Dr. Leo.”
Outro silêncio se seguiu.
Aposto que isto resulta, Pensou Riley. Ela sabia perfeitamente bem quye Mike desprezava o célebre terapeuta.
Por fim, Mike disse, “Quando é que o Bill pode vir?”
“O que é que estás a fazer agora?”
“Estou no meu escritório. Vou estar ocupado durante umas duas horas mas depois disso estou disponível.”
“Ótimo. Ela estará aí nessa altura. Mas diz-me alguma coisa se ele não aparecer.”
“Fica descansada.”
Quando terminaram a chamada, o café já estava pronto. Riley serviu uma chávena e voltou ao quarto de Bill. Ele não estava lá. Mas a porta da casa de banho estava fechada e Riley conseguia ouvir a máquina de barbear de Bill do outro lado.
Riley deu um toque na porta.
“Sim, estou decente,” Disse Bill.
Riley abriu a porta e viu Bill a barbear-se. Colocou o café na beira do lavatório.
“Marquei-te uma consulta com o Mike Nevins,” Disse ela.
“Para quando?”
“Para agora. É o tempo de conduzires até lá. Envio-te uma mensagem com a morada do gabinete dele. Eu tenho que ir.”
Bill pareceu surpreendido. É claro, Riley não lhe tinha dito que estava com pressa.
“Tenho um caso no Iowa,” Explicou Riley. “O avião está à espera. Não percas a consulta do Mike Nevins. Se faltares eu descubro e vai ser uma carga dos diabos.”
Bill tentou resistir mas então disse, “OK, eu não falto.”
Riley virou-se para partir. Então pensou numa coisa que não tinha a certeza se devia mencionar.
Por fim disse, “Bill, o Shane Hatcher ainda está à solta. Há agentes na minha casa. Mas recebi uma mensagem ameaçadora dele e ninguém o sabe exceto tu. Penso que ele não atacaria a minha família, mas não tenho a certeza. Se calhar…”
Bill assentiu.
“Eu mantenho as coisas debaixo de olho,” Disse ele. “Tenho que fazer alguma coisa útil.”
Riley deu-lhe um abraço rápido e saiu do apartamento.
Ao caminhar na direção do carro, olhou novamente para o relogio.
Se não encontrasse trânsito, chegaria a tempo.
Agora tinha que começar a pensar no seu novo caso, mas não estava particularmente preocupada com ele. Este não devia demorar muito tempo.
No final de contas, que tempo e esforço exigiria um homicídio isolado ocorrido numa pequena cidade?
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