Riley levantou-se antes de estar completamente acordada.
Aquele som tinha sido horrível.
O que seria?
Quando ligou a luz da mesa de acbeceira, uma voz familiar resmungou do outro lado do quarto, “Riley – o que é que se passa?”
Trudy estava deitada na sua cama vestida, protegendo os olhos da luz. Era óbvio que ali tinha caído bastante tocada pelo álcool.
Riley nem dera pela chegada da sua companheira de quarto.
Mas agora estava acordada.
Assim como todas as outras raparigas do dormitório. Ouviu vozes assustadas vindas dos quartos contíguos.
Riley calçou os chinelos, vestiu o robe e abriu a porta do quarto. Saiu para o corredor.
Outras portas se abriam. As raparigas espreitavam, perguntando o que é que se passava.
E Riley pode finalmente ver uma coisa que não estava bem. A meio do corredor, uma rapariga estava de joelhos a chorar.
Riley foi ao seu encontro.
Heather Glover, Apercebeu-se.
Heather estivera com elas no Centaur’s Den. Ainda lá estava com Trudy e as outras quando Riley se foi embora.
Agora Riley sabia – fora Heather que ouvira gritar.
Também se lembrou…
A Heather é a companheira de quarto da Rhea!
Riley aproximou-se da rapariga que chorava e ajoelhou-se a seu lado.
“O que é que se passa?” Perguntou. “Heather… o que é que aconteceu?”
Chorando e soluçando, Heather apontou para a porta aberta a seu lado.
Conseguiu dizer…
“É a Rhea. Ela…”
De repente, Heather vomitou.
Afastando-se da golfada de vómito, Riley levantou-se e espreitou pela porta do quarto. Pela luz que vinha do corredor, apercebeu-se de algo espalhado no chão – um líquido escuro. A princípio pensou tratar-se de refrigerante espalhado.
Então estremeceu ao perceber…
Sangue.
Já vira sangue daquela forma. Era inconfundível.
Entrou no quarto e de imediato viu que Rhea estava estendida na sua cama, completamente vestida e com os olhos abertos.
“Rhea?” Disse Riley.
Observou mais de perto. Então emudeceu.
A garganta de Rhea estava cortada de orelha a orelha.
Rhea estava morta – Riley não tinha a mínima dúvida.
Não era a primeira mulher assassinada que via na vida.
Então Riley ouviu outro grito. Por um momento pensou se o grito poderia vir de si.
Mas não – vinha de trás dela.
Riley virou-se e à porta encontrava-e Gina Formaro. Também ela estivera no Centaur’s Den nessa noite. Agora os seus olhos estavam esbugalhados e tremia, pálida com o choque.
Riley apercebeu-se que estava extremamente calma, nada assustada. Também tinha consciência que era provavelmente a única aluna do piso que não estava em pânico.
Cabia-lhe a ela certificar-se de que as coisas não se tornavam piores.
Riley pegou tranquilamente no braço de Gina e levou-a para o corredor. Heather ainda estava no local onde tinha vomitado a chorar. E outras alunas começavam a querer aproximar-se do quarto.
Riley fechou a porta do quarto e colocou-se à sua frente.
“Afastem-se!” Gritou à medida que as raparigas se aproximavam. “Não se aproximem!”
Riley ficou surpreendida com a força e autoridade que transpareceram na sua voz.
As raparigas obedeceram, formando um semicírculo à volta do quarto.
Riley gritou novamente, “Alguém ligue o 112!”
“Porquê?” Perguntou uma das raparigas.
Ainda ajoelhada no chão com uma poça de vómito à sua frente, Heather Glover conseguiu dizer…
“É a Rhea. Foi assassinada.”
De repente, uma mistura de vozes explodiu no corredor – algumas gritavam, algumas choravam. Algumas das raparigas investiram novamente na direção do quarto.
“Afastem-se!” Disse Riley outra vez, ainda a bloquear a entrada. “Liguem para o 112!”
Uma das raparigas que tinha um pequeno telemóvel fez a chamada.
Riley interrogou-se…
O que é que faço agora?
Só tinha a certeza de uma coisa – não podia deixar nenhuma das raparigas entrar no quarto. Já havia pânico suficiente. Seria pior se mais pessoas vissem o que se encontrava naquele quarto.
Também tinha a certeza de que ninguém devia andar numa…
Numa quê?
Numa cena de crime, Percebeu. Aquele quarto era uma cena de crime.
Riley lembrou-se – tinha a certeza que devia ter sido em filmes ou programas de televisão – que a polícia quereria que a cena do crime estivesse o mais imaculada possível.
Restava-lhe esperar – e manter toda a gente à distância.
E até àquele momento, estava a conseguir. O semicírculo de alunas começou a dispersar e as raparigas afastaram-se em grupos mais pequenos, indo para os quartos ou formando pequenos grupos no corredor para partilhar o seu horror. Havia quem chorasse e quem gemesse. Quem tinha telemóveis, ligava aos pais ou amigos para contar as suas versões do sucedido.
Riley pensou que talvez não fosse boa ideia, mas não tinha forma de as impedir. Pelo menos mantinham-se afastadas da porta que ela guardava.
E agora começava a sentir o horror.
Imagens da sua infância, inundaram o seu cérebro…
A Riley e a mamã estavam numa loja de doces – e a mamã estava a mimar Riley!
Estava a comprar-lhe muitos doces.
Estavam ambas a rir-se e felizes até…
Um homem dirigiu-se a elas. Tinha um rosto estranho, plano e sem expressão, algo parecido com um pesadelo de Riley. Riley demorou alguns segundos a perceber que ele usava uma meia de nylon na cabeça – do tipo que a mamã usava nas pernas.
E segurava numa arma.
Começou a gritar à mamã…
“A sua mala! Dê-me a sua mala!”
A sua voz parecia tão assustada como Riley.
Riley olhou para a mãe, à espera que fizesse o que o homem lhe mandava.
Mas a mãe ficara pálida e não parava de tremer. Parecia não compreender o que se passava.
“Dê-me a sua mala!” Gritou o homem novamente.
A mamã limitou-se a ficar ali agarrada à mala.
Riley queria dizer à mãe…
“Faz o que o homem te pede mamã. Dá-lhe a tua mala.”
Mas por alguma razão, as palavras não lhe saíram da boca.
A mãe cambaleou ligeiramente, como se quisesse fugir mas não conseguisse mexer as pernas.
Então viu-se um flash e ouviu-se um ruído terrível…
… e a mamã caiu no chão ao seu lado.
O seu peito estava tingido de vermelho e a cor ensopou a sua blusa e espalhava-se numa poça no chão…
Riley regressou ao presente graças ao som de sirenes a aproximarem-se. A polícia estava a chegar.
Sentiu-se aliviada por as autoridades irem assumir o controlo da situação…
Viu que os rapazes que viviam no segundo andar estavam a descer e a perguntar às raparigas o que é que se estava a passar. Também estavam vestidos de várias formas – camisas e calças de ganga, pijamas e robes.
Harry Rampling, o jogador de futebol que tinha abordado Riley no bar, foi até onde ela se encontrava. Passou pelas raparigas e ficou a olhar para ela por um momento.
“O que é que pensas que estás a fazer?” Perguntou ele.
Riley não disse nada. Sentiu que não valia a pena tentar explicar – não com a polícia prestes a aparecer a qualquer minuto.
Harry sorriu e deu um passo ameaçador na direção de Riley. Era óbvio que já lhe haviam dito que estava uma rapariga morta dentro do quarto.
“Sai do caminho,” Disse ele. “Quero ver.”
Riley manteve-se ainda mais firme em frente à porta.
“Não podes entrar,” Disse ela.
Harry disse, “Porque não, menininha?”
Riley lançou-lhe um olhar de desprezo, mas questionava-se…
Que raio estou eu a fazer?
Será que ela acreditava realmente que conseguiria manter fora daquele quarto um atleta decidido a entrar?
Estranhamente, teve a sensação que conseguiria.
Não havia dúvida que daria luta se necessário fosse.
Felizmente, ouviu passos no corredor e depois a voz de um homem a dizer…
“Acabem com isso. Deixem-nos passar.”
O ajuntamento de alunos dispersou-se.
Alguém disse, “Ali,” e três polícias caminharam na direção de Riley.
Ela reconheceu-os. Eram rostos familiares em Lanton. Dois deles eram homens, os agentes Steele e White. A outra era uma mulher, a agente Frisbie. Dois polícias do campus também apareceram.
Steele tinha excesso de peso e o seu rosto avermelhado fazia Riley suspeitar de que bebia demais. White era um homem alto que caminhava com uma postura relaxada e cuja boca parecia estar sempre aberta. Não parecia especialmente inteligente aos olhos de Riley. A agente Frisbie era uma mulher alta e robusta que sempre parecera a Riley amigável.
“Recebemos uma chamada,” Disse o agente Steele. Perguntou a Riley, “Que raio é que se passa aqui?”
Riley afastou-se da porta e apontou para ela.
“É a Rhea Thorson,” Disse Riley. “Ela está… “
Riley não conseguiu terminar a frase. Ainda tentava capacitar-se de que Rhea estava morta.
Limitou-se a afastar-se.
O agente Steele abriu a porta e entrou no quarto.
Então surgiu uma exclamação…
“Oh meu Deus!”
Os agentes Frisbie e White entraram de imediato.
Então Steele reapareceu e disse a quem ali se encontrava, “Preciso de saber o que aconteceu. Imediatamente.”
Ouviu-se um murmúrio geral de confusão e alarme.
Então Steele disparou várias perguntas, “O que sabem sobre isto? Esta rapariga esteve no quarto toda a noite? Quem mais estava aqui?”
Seguiu-se mais confusão com algumas raparigas a dizer que Rhea não tinha saído do dormitório, outras a dizer que ela fora à biblioteca, outras a afirmarem que saíra com alguém e mais algumas que atestavam que ela saíra para tomar uns copos. Ninguém vira mais ninguém ali. Não até ouvirem Heather a gritar.
Riley respirou fundo, preparando-se para calar as outras e contar o que sabia. Mas antes que pudesse falar, Harry Rampling apontou para Riley e disse…
“Esta rapariga tem agido de forma estranha. Estava aí plantada quando aqui cheguei. Como se tivesse acabado de sair do quarto.”
Steele dirigiu-se a Riley e disse…
“É verdade? Tens que te explicar. Começa a falar.”
Parecia estar a tentar alcançar as algemas. Pela primeira vez, Riley começou a sentir um pânico ligeiro.
Este homem vai prender-me? Interrogou-se.
Não fazia ideia do que poderia acontecer se tal sucedesse.
Mas a mulher polícia disse bruscamente ao agente Steele, “Deixa-a em paz, Nat. Não vês o que é que ela estava a fazer? Estava a guardar o quarto, a certificar-se de que ninguém entrava. Temos que lhe agradecer pelo facto de a cena do crime não estar contaminada.”
O agente Steele recuou, parecendo ressentido.
A mulher disse a quem estava presente, “Quero que todos fiquem onde estão. Ninguém se mexe, ouviram? E evitem falar.”
O grupo assentiu.
Então a mulher pegou em Riley pelo braço e afastou-a dos outros.
“Vem comigo,” Sussurrou bruscamente a Riley. “Nós as duas vamos ter uma conversinha.”
Riley engoliu em seco ansiosamente enquanto a agente Frisbie a levava dali.
Estou metida em sarilhos? Questionou-se.
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