Jessie marcou uma consulta com sua antiga terapeuta, Dra. Janice Lemmon. Ela ficou mais relaxada só de saber que iria visitar seus antigos lugares. Seu pânico diminuiu quase imediatamente depois de agendar a sessão.
Quando Kyle chegou em casa naquela noite - cedo - eles encomendaram comida e assistiram a um filme piegas mas divertido sobre realidades alternativas chamado O 13º Andar. Nenhum dos dois se desculpou formalmente, mas eles pareciam ter redescoberto sua zona de conforto. Após o filme, eles nem sequer subiram para o quarto para fazer sexo. Em vez disso, Kyle simplesmente foi para cima dela bem ali no sofá. Isso fez com que Jessie se lembrasse de seus dias de recém-casados.
Ele até tinha feito o café da manhã dela nessa manhã antes de sair para o trabalho. Estava horrível - torrada queimada, ovos quase crus e bacon mal passado - mas Jessie gostou da tentativa. Ela se sentiu um pouco mal por não lhe contar seus planos para o dia. Mas, mais uma vez, ele não perguntou, portanto ela não estava propriamente mentindo.
Jessie só se sentiu nervosa no dia seguinte, na autoestrada, com os arranha-céus do centro de Los Angeles no horizonte. Ela tinha feito a viagem de meio-dia desde o Condado de Orange em menos de uma hora, tendo chegado à cidade cedo só para poder dar uma volta por lá um bocado. Ela estacionou no estacionamento perto do escritório da Dra. Lemmon, em frente à Original Pantry, na esquina da Figueroa com a West 9th.
Então ela teve a ideia de ligar para sua ex-colega de quarto da USC e sua mais antiga amiga da faculdade, Lacey Cartwright, que morava e trabalhava na área, para ver se ela poderia encontrá-la. Ela deixou mensagem no correio de voz. Quando ela começou a descer a Figueroa na direção ao Hotel Bonaventure, Lacey mandou uma mensagem dizendo que estava muito ocupada naquele dia, mas que elas sairiam da próxima vez que Jessie estivesse por perto.
Quem é que sabe quando isso vai ser?
Ela esqueceu a decepção e se concentrou na cidade ao seu redor, observando as vistas e os sons agitados que eram tão diferentes do novo ambiente onde ela agora vivia. Quando ela chegou à 5ª Avenida, ela virou para a direita e continuou andando.
Isso fez com que ela se lembrasse dos dias, não tinha muito tempo, em que ela fazia exatamente o mesmo várias vezes por semana. Se ela estivesse se debatendo com um estudo de caso para a aula, ela simplesmente saía para passear pelas ruas, usando o tráfego como um ruído branco, enquanto dava voltas ao caso em sua mente até encontrar uma maneira de o abordar. Seu trabalho era quase sempre mais sólido se ela tivesse tido tempo de passear pelo centro e pensar um pouco.
Ela mantinha em sua cabeça a discussão iminente com a Dra. Lemmon enquanto fazia mentalmente uma revisão sobre o café de ontem na casa de Kimberly. Ela ainda não conseguia identificar a natureza do misterioso secretismo das mulheres que conheceu lá. Mas se deu conta de uma coisa em retrospectiva - como todas estavam desesperadas para ouvir os detalhes de seus estudos de perfil.
Ela não entendia se era porque a profissão em que ela estava a entrar parecia tão fora do comum ou se era simplesmente porque nem sequer parecia uma profissão. Olhando para trás, ela tomou consciência que nenhuma das mulheres trabalhava.
Algumas costumavam trabalhar. Joanne tinha experiência em marketing. Kimberly disse que tinha sido agente imobiliária quando eles viviam em Sherman Oaks. Josette tinha gerido uma pequena galeria em Silverlake. Mas agora elas eram todas mães que não trabalhavam. E, embora parecessem felizes com suas novas vidas, também pareciam famintas por detalhes do mundo profissional, avidamente, quase que devorando culposamente qualquer intriga.
Jessie parou, dando conta que, de alguma forma, chegara ao Hotel Biltmore. Ela tinha estado aqui muitas vezes antes. Este hotel era famoso por, entre outras coisas, ser anfitrião de alguns dos primeiros Oscares da Academia em 1930. Também lhe tinham dito que foi o local onde Robert Kennedy foi assassinado por Sirhan Sirhan em 1968.
Antes de decidir fazer sua tese sobre a DNR, Jessie tinha brincado com a ideia de traçar o perfil de Sirhan. Então ela apareceu um dia sem avisar e perguntou ao porteiro se eles tinham excursões pelo hotel que incluíssem o local do tiroteio. Ele ficou perplexo.
Foi embaraçoso até ele entender o que ela estava procurando. Ele educadamente explicou que o homicídio não ocorrera lá, mas no agora demolido Hotel Ambassador.
Ele tentou suavizar a situação dizendo que JFK conseguiu a nomeação democrata para presidente no Hotel Biltmore em 1960. Mas ela estava muito humilhada para ficar por perto para ouvir essa história.
Apesar da vergonha, a experiência ensinou a ela uma lição valiosa que ficou com ela desde então: não fazer suposições, especialmente numa linha de trabalho em que assumir o erro pode ser fatal. No dia seguinte, ela mudou os tópicos da tese e resolveu que a partir de então ela faria sua pesquisa antes de aparecer num local.
Apesar desse fracasso, Jessie voltava com frequência, já que adorava o glamour antiquado do lugar. Desta vez, ela imediatamente se acomodou em sua zona de conforto enquanto percorreu os corredores e salões de baile por uns bons vinte minutos.
Ao passar pela recepção quando estava saindo, reparou num homem jovem, engravatado, indiferente, perto do local do paquete do hotel, folheando um jornal. O que lhe chamou a atenção foi em como ele estava suado. Com o ar-condicionado funcionando no hotel, ela não via como isso era fisicamente possível. E ainda assim, a cada poucos segundos, ele tocava levemente nas gotas de suor que constantemente se formavam em sua testa.
Porque é que um sujeito tão suado está simplesmente lendo um jornal de uma forma tão descontraída?
Jessie se aproximou um pouco e pegou em seu telefone. Ela fingiu ler uma coisa qualquer, mas colocou o telefone no modo de câmera e o inclinou para conseguir observar o homem sem na verdade olhar para ele. De vez em quando ela tirava uma foto depressa.
Na verdade, ele não parecia estar lendo o jornal, mas sim a usá-lo como um adereço enquanto olhava intermitentemente na direção das malas que estavam a ser colocadas no carrinho de bagagem. Quando um dos funcionários começou a empurrar o carrinho na direção do elevador, o homem engravatado colocou o jornal debaixo do braço e seguiu atrás dele.
O funcionário empurrou o carrinho de bagagem para o elevador e o homem engravatado o seguiu e parou do outro lado do carrinho. Assim que as portas se fecharam, Jessie viu o homem engravatado pegar do carrinho uma pasta que não era visível para o empregado.
Ela observou o elevador subir lentamente e parar no oitavo andar. Após cerca de dez segundos, começou a descer novamente. Enquanto o elevador descia, ela foi até ao segurança que estava perto da porta da frente. O segurança, um sujeito de aparência amável, em seus quarenta e muitos, sorriu para ela.
“Acho que tem um ladrão agindo no hotel”, disse Jessie sem preâmbulo, querendo dar a ele um ponto de situação rapidamente.
“Como assim?”, ele perguntou, franzindo a testa ligeiramente.
“Eu o vi”, disse ela, mostrando a foto em seu telefone, “roubou uma pasta de um carrinho de bagagem. É possível que fosse dele. Mas ele foi muito sorrateiro e estava suando como se estivesse nervoso com alguma coisa.”
“Ok, Sherlock”, o guarda disse com ceticismo. “Assumindo que você está certa, como é que o vou encontrar? Você viu em que andar o elevador parou?”
“Oitavo. Mas se eu estiver certa, isso não importará. Se ele for um hóspede do hotel, eu entendo que esse é o andar dele e é aí que ele vai ficar.”
“E se ele não for um hóspede?”, o segurança perguntou.
“Se ele não for, imagino que ele esteja no elevador que está descendo para a recepção agora.”
No exato momento em ela disse isso, a porta do elevador se abriu e o homem suado e engravatado saiu, com o jornal numa mão e a pasta na outra. Ele começou caminhando até à saída.
“Imagino que ele vá esconder aquela pasta em algum lugar e começar todo o procedimento novamente”, disse Jessie.
“Fique aqui”, disse o segurança, e depois falou para seu rádio. “Vou precisar de reforços na recepção o mais rápido possível.”
Ele se aproximou do homem engravatado, que o viu de soslaio e acelerou o passo. O mesmo fez o segurança. O homem engravatado saiu a correr pela porta da frente e colidiu com outro segurança que corria na direção oposta. Ambos se esparramaram no chão.
O segurança de Jessie agarrou o homem engravatado, o levantou, puxou seu braço para trás das costas e o empurrou contra a parede do hotel.
“Se importa que eu veja dentro de sua pasta, senhor?”, ele disse.
Jessie queria ver como tudo iria acabar, mas uma rápida olhada no relógio mostrou que faltavam cinco minutos para sua consulta com a Dra. Lemmon, marcada para as 11h. Ela já não podia voltar a pé e, então, apanhou um táxi só para conseguir chegar a tempo. Ela nem sequer teria oportunidade de se despedir do segurança. Ela temia que, se tentasse, ele insistisse para ela ficar por perto para prestar sua declaração à polícia.
Ela conseguiu chegar a tempo por pouco. Estava sem fôlego. Tinha acabado de se sentar na sala de espera quando a Dra. Lemmon abriu a porta do gabinete para a convidar a entrar.
“Você veio correndo até aqui desde Westport Beach?”, a médica perguntou com um sorriso.
“Praticamente.”
“Bem, entre e fique confortável”, disse a Dra. Lemmon, fechando a porta e enchendo dois copos de água de um jarro cheio de fatias de limão e pepino. Ela ainda tinha a mesma permanente horrível da qual Jessie se lembrava, com pequenos cachos loiros que saltavam quando tocavam em seus ombros. Ela usava óculos grossos que faziam com que seus olhos afiados, parecidos com os das corujas, parecerem mais pequenos. Ela era uma mulher pequena, com pouco mais de cinco pés de altura. Mas ela estava visivelmente magra, provavelmente resultado do yoga que ela dissera a Jessie que fazia três vezes por semana. Para uma mulher de sessenta e poucos anos, ela estava ótima.
Jessie se sentou na poltrona confortável que sempre usava para as sessões e imediatamente se familiarizou de novo com a vibração a que estava acostumada. Ela já não vinha aqui tinha algum tempo, tinha bem mais de um ano, e tinha esperado continuar a não vir. Mas era um lugar de conforto, onde ela tinha lutado para fazer as pazes com seu passado, e, intermitentemente, sido bem sucedida.
A Dra. Lemmon deu água a ela, se sentou na sua frente, pegou num bloco de notas e numa caneta, os colocando no colo dela. Esse era seu sinal de que a sessão havia começado formalmente.
“Vamos falar sobre o quê hoje, Jessie?”, ela perguntou calorosamente.
“As boas notícias primeiro, eu acho. Vou começar minhas aulas práticas na DSH-Metro, na unidade DNR.”
“Oh... uau! Isso é impressionante. Quem é seu orientador?
“Warren Hosta na UC-Irvine”, disse Jessie. “Você o conhece?”
“Nós já interagimos”, disse a médica enigmaticamente. “Eu acho que você está em boas mãos. Ele é implicante, mas conhece o trabalho, que é o que importa para você.”
“Fico feliz em ouvir isso porque não tive muita escolha”, observou Jessie. “Ele era apenas um que o Painel aprovaria na área.”
“Eu acho que para você conseguir o que quer, você tem que seguir as regras deles. É isto que você queria, certo?”
“É”, disse Jessie.
A Dra. Lemmon olhou para ela de perto. Um momento de compreensão silencioso passou entre elas. No passado, quando Jessie foi interrogada sobre sua tese pelas autoridades, a Dra. Lemmon apareceu na delegacia da polícia do nada. Jessie lembrava de ver sua psiquiatra falando baixinho com várias pessoas que tinham estado a observar silenciosamente sua entrevista. Depois disso, as perguntas pareceram menos acusatórias e mais respeitosas.
Foi só mais tarde que Jessie soube que a Dra. Lemmon era membro do Painel e estava bem ciente dos acontecimentos na DNR. Ela até tinha tratado alguns dos pacientes lá. Olhando para trás, tal não devia ter sido uma surpresa. Afinal, Jessie tinha procurado esta mulher como terapeuta, justamente devido à sua reputação de especialista nessa área.
“Posso perguntar uma coisa a você, Jessie?”, a Dra. Lemmon perguntou. “Você diz que trabalhar na DNR é o que você quer. Mas você já considerou que o lugar pode não lhe dar as respostas que você está procurando?”
“Eu só quero entender melhor como essas pessoas pensam”, Jessie insistiu, “para que eu possa ser uma especialista em perfis criminais melhor.”
“Eu acho que nós duas sabemos que você está procurando muito mais do que isso.”
Jessie não respondeu. Em vez disso, ela cruzou as mãos no colo e respirou fundo. Ela sabia como a médica interpretaria isso, mas ela não se importava.
“Podemos voltar a isso depois”, disse a Dra. Lemmon em voz baixa. “Vamos avançar. Como é que está sendo a vida de casada?”
“Essa é a principal razão pela qual eu queria ver você hoje”, disse Jessie, feliz por mudar de assunto. “Como você sabe, Kyle e eu acabamos de nos mudar daqui para Westport Beach porque a empresa o transferiu para o escritório de Condado de Orange. Nós temos uma casa grande num ótimo bairro a uma curta distância do porto... “
“Mas...”, a Dra. Lemmon cutucou.
“Há algo no lugar que simplesmente não bate certo. Eu tenho tido dificuldades em entender o quê. Todas as pessoas têm sido incrivelmente amistosas até agora. Já fui convidada para cafés, almoços e churrascos. Recebi sugestões para as melhores mercearias e creches, caso precisássemos de uma. Mas tem qualquer coisa que parece estar... errada. E isso está começando a me afetar.”
“De que maneira?”, a Dra. Lemmon perguntou.
“Me apanho às vezes triste sem ter um bom motivo para isso”, disse Jessie. “Kyle chegou em casa tarde para um jantar que eu tinha feito e eu deixei que isso me afetasse negativamente muito mais do que deveria. Não teve assim tanta importância, mas ele ficou tão indiferente ao assunto. E isso simplesmente me afetou. Além disso, simplesmente desempacotar caixas parece assustador de uma forma que é desproporcional. Eu tenho essa sensação constante e esmagadora de não pertencimento, de que existe alguma chave secreta para um quarto em que toda a gente já esteve e ninguém vai me dar.”
“Jessie, como já faz algum tempo desde nossa última sessão, eu vou relembrar algo que nós já discutimos antes. Não precisa haver uma 'boa razão' para esses sentimentos surgirem. Você está lidando com algo que pode aparecer do nada. E não é um choque que uma situação nova e estressante, não importa o quão aparentemente perfeita seja a imagem, os possa incitar. Você está a tomar sua medicação regularmente?”
“Todos os dias.”
“Ok”, disse a médica, tomando nota em seu bloco. “É possível que precisemos mudar isso. Eu também notei que você mencionou que uma creche pode ser necessária no futuro próximo. Isso é algo que vocês os dois estão buscando ativamente - crianças? Se assim for, essa é outra razão para mudar sua medicação.”
“Estamos tentando... de forma intermitente. Mas às vezes Kyle parece animado com a perspetiva e, depois, fica... distante; quase frio. Às vezes ele diz algo e eu me pergunto 'quem é este cara?'“
“Se lhe servir de conforto, tudo isso é muito normal, Jessie. Você está num novo ambiente, cercada por estranhos, com apenas uma pessoa que você conhece bem para se agarrar. É estressante. E ele está sentindo muitas dessas mesmas coisas, por isso que vocês ficam sujeitos a discussões e a terem momentos em que vocês não se conectam.”
“Mas é isso, doutora”, Jessie insistiu. “Kyle não parece estressado. Ele obviamente gosta de seu trabalho. Ele tem um antigo amigo do colégio que vive na área portanto ele tem esse escape. E todos os sinais indicam que ele está totalmente empolgado por estar lá - sem período de ajuste necessário. Ele não parece sentir falta de nada de nossa antiga vida - nem de nossos amigos, nem de nossos velhos lugares, nem de estar num lugar onde tem vida depois das nove da noite. Ele está completamente ajustado.”
“Pode parecer assim. Mas eu estaria disposta a apostar que, por dentro, ele não tem assim tanta certeza das coisas.”
“Eu aceito essa aposta”, disse Jessie.
“Quer você tenha razão ou não”, disse a Dra. Lemmon, notando o tom de desafio na voz de Jessie, “o próximo passo é você se perguntar a si própria o que vai fazer com essa nova vida. O que é que você pode fazer para isso funcionar melhor para si, enquanto indivíduo e enquanto casal?”
“Eu não sei mesmo o que fazer”, disse Jessie. “Eu sinto que estou a dar uma oportunidade a este lugar. Mas eu não sou como ele. Eu não sou do gênero de me 'atirar de cabeça'.”
“Isso é verdade realmente”, a médica concordou. “Você é uma pessoa naturalmente cautelosa, com bom senso. Mas você pode ter que se adaptar um pouco para sobreviver durante um tempo, especialmente em situações sociais. Talvez tentar se abrir um pouco mais para as possibilidades ao seu redor. E talvez dar a Kyle o benefício da dúvida um pouco mais. Estes são pedidos razoáveis?”
“Claro que são, nesta sala. Lá fora é diferente.”
“Talvez seja uma escolha que você está fazendo”, sugeriu a Dra. Lemmon. “Me deixe perguntar uma coisa. A última vez que nos encontramos, discutimos a origem de seus pesadelos. Suponho que você ainda os tem, certo?”
Jessie assentiu. A médica continuou.
“Muito bem. Também discutimos sobre você compartilhar isso com seu marido, dizendo a ele porque você acorda com calafrios várias vezes por semana. Você fez isso?”
“Não”, Jessie admitiu culpada.
“Eu sei que você está preocupada sobre como ele vai reagir. Mas nós falamos sobre como contar a verdade a ele sobre seu passado a poderá ajudar a lidar com isso de maneira mais eficaz e aproximar vocês dois.”
“Ou a separar”, rebateu Jessie. “Eu entendo o que está dizendo, Doutora. Mas tem uma razão para que poucas pessoas saibam de minha história pessoal. Não é emocionalmente reconfortante. A maioria das pessoas não consegue lidar com isso. Você só sabe porque eu pesquisei sobre sua experiência e determinei que você tinha formação e experiência específicas com este tipo de coisas. Eu procurei você e deixei que você entrasse em minha cabeça porque eu sabia que você conseguia lidar com isso.”
“Seu marido conhece você tem quase uma década. Você acha que ele não consegue lidar com isso?
“Eu acho que uma profissional experiente como você teve que usar toda a contenção e empatia que tinha para não correr para fora da sala aos berros quando eu contei a você. Como é que você acha que um tipo normal dos subúrbios da Califórnia do Sul vai reagir?”
“Como eu não conheço Kyle, eu não sei”, respondeu a Dra. Lemmon. “Mas se você está a planejar começar uma família com ele - passar o resto de sua vida com ele - você pode querer considerar se você consegue realisticamente esconder dele uma parte significativa de sua vida.”
“Vou levar isso em consideração”, disse Jessie sem compromisso.
Ela percebeu que a Dra. Lemmon tinha entendido que ela não ia desenvolver mais o assunto.
“Então vamos falar sobre medicação”, disse a médica, mudando de assunto. “Eu tenho algumas sugestões de alternativas agora que você está planejando engravidar.”
Jessie olhou para a Dra. Lemmon, observando sua boca se mover. Mas por mais que tentasse, ela não se conseguia concentrar. As palavras flutuavam enquanto seus pensamentos voltavam para aqueles bosques escuros de sua infância, os que assombravam seus sonhos.
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